O jipe conversível em alta velocidade levantava uma espessa camada de poeira no horizonte do deserto vermelho mexicano. Ao longe os moradores da pequena vila de Ciudad Cuervo que observavam a aproximação do jipe, sabiam que era a chegada de um forasteiro na cidade, e geralmente, isso significava problemas.
O veículo entrou na rua principal já não corria mais, o motorista agora trafegava como um turista admirando a pobre paisagem da cidade que mais parecia um vilarejo saído de algum filme de bang-bang que assistiu quando era criança. Os olhos do vilarejo estavam sobre ele. Velhos sentados em frente de suas casas pareciam que esperavam a morte chegar, mulheres com seus longos vestidos coloridos surrados, algumas com sacolas outras com pequenas crianças no colo, pararam para observar o estranho que passava por elas indiferente, a frente um grupo de crianças descalças e sem camisas brincavam com uma bola de futebol furada. Era uma cidade esquecida por Deus, sim, mais uma maldita cidade esquecida por Deus. Ele já estava acostumado com lugares assim.
Parou em frente ao bar, que mais parecia abandonado. Entrou, trajava uma calça branca e uma camisa estampada azul bebê, um par de sapatos marrons completava seu vestuário, em sua mão direita uma maleta metálica e na esquerda um Rolex dourado, combinava com a sua grossa corrente envolta do pescoço. A escuridão do lugar disfarçava a poeira e a sujeira, o fedor de urina invadiu suas narinas, ao fundo um homem sentado, dormia debruçado à mesa, provavelmente embriagado. Aproximou-se do balcão, tirou seu chapéu que de branco estava bege por causa da poeira e pôs sobre o móvel. Um homem gordo, de barbas escuras, com uma camisa manchada de suor fitava-o atrás do balcão.
- Uma tequila, por favor.
O barman colocou um pequeno copo com o liquido amarelado sobre o balcão.
- Não gostamos de forasteiros aqui! Dá azar. – disse aproximando seu rosto ao rosto do homem.
- Também não gosto daqui. Só quero beber algo e ir embora. – respondeu encarando o gordo barbudo.
A porta do bar se abriu. Os dois homens instintivamente olharam para direção da porta, a claridade de fora ofuscou a visão dos dois, mas puderam perceber que era a silhueta de um homem alto e careca. O barman pensou – Dois forasteiros no mesmo dia? Isso não é bom.
O homem deu mais uns passos em direção ao balcão, ele aparentava uns 40 anos, por volta de 1,80m, totalmente careca, semblante duro, estava de óculos escuros, e apesar da escuridão do local não retirou o acessório do rosto.
Sentou se ao lado do primeiro forasteiro, como se ele não existisse.
- Tequila – pediu com uma voz rouca e baixa.
O barman mediu-o de alto a baixo, virou as costas e pegou a garrafa e um copo. Colocou o copo no balcão, encheu-o. E com um gole apenas o homem bebeu sem fazer careta. – Mais uma – pediu.
- Lugar aconchegante – comentou sorrindo o homem da maleta prateada.
- Sim, muito. – respondeu sem virar o rosto o careca que segurava seu segundo copo de tequila.
- Marco Donatto, prazer! – estendeu a mão.
- Dimitrius – correspondeu com um aperto firme e frio.
Marco percebeu que Dimitrius tinha um código de barras tatuado na parte interior do seu punho direito, estranhou, mas não falou nada.
- Veio ao México a negócios? – perguntou Marco puxando assunto.
- Sim, e você?
- Também – respondeu sinalizando ao barman para trazer mais uma tequila – Estou indo para Chihuahua resolver um assunto de negócios da família.
- Coincidência, também estava indo para lá – disse Dimitrius, com um leve sorriso no canto da boca.
- Estava? Não vai mais? Por quê? – perguntou com uma expressão curiosa.
- O assunto que vim tratar não está mais lá, para falar a verdade ele nem vai chegar em Chihuahua.
- Não entendi. – Marco olhava fixamente para o estranho careca.
Nesse instante Dimitrius faz um rápido movimento com o braço direito e uma lâmina brilhante sai de baixo de sua manga - um mecanismo retrátil elaborado por ele, muito útil no seu trabalho – e antes que o homem de olhar assustado pudesse reagir, um jorro de sangue pulsa de sua garganta rasgada de ponta a ponta, ele tenta dizer algo, mas sem conseguir respirar, cai morto afogado em seu próprio sangue.
- Madre de Dios! – exclama o barman, fazendo o sinal da cruz.
Dimitrius encaixa a lâmina ensangüentada novamente por baixo da manga do paletó, retira do bolso da calça um lenço, limpa seu rosto dos respingos de sangue. Pega o celular, disca.
- O serviço está feito. – diz calmamente.
...
- Não, antes tenho mais algumas coisas para resolver em Chihuahua – responde para a pessoa do outro lado da linha.
Pega a maleta prateada que esta ao lado do corpo já sem vida, coloca sobre o balcão sujo de sangue, abre-a, uma rápida olhada, calcula aproximadamente 1 milhão, vinte cinco por cento seria seu pagamento e talvez conseguisse um bônus extra em Chihuahua. Pegou uma nota de cem e deu ao barman assustado.
- Tome! Fique com o troco. Desculpe pela bagunça.
Sai do bar, entra em seu carro e em poucos minutos, está na estrada rumo ao sul, deixando para trás apenas uma espessa camada de poeira.
[Adilson Carlstrom Junior]
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