domingo, 18 de novembro de 2007

"Nada de Novo no Mundo dos Mortos" - parte 1

Domingo, 19:27h. Início de noite começava a escurecer. A rua deserta. Ao longe se ouvia os latidos dos cães. Todos em suas casas tomavam suas doses dominicais de Faustão ou Gugu (não fazia diferença o efeito era o mesmo: mediocridade) logo começaria o Fantástico e então ele teria certeza que mais uma vez havia passado o domingo e ele não havia feito nada.
Sentado em sua velha poltrona rasgada pelo tempo e pelo uso, com uma lata de cerveja na mão, a TV desligada e com os olhos fixos no nada, esperava que algo acontecesse para tirá-lo daquela prisão domiciliar. Poderia ser qualquer coisa, um telefonema, algúem chamando-o à porta, um acidente de carro na frente de sua casa, um meteóro caindo na sua rua, dinossauros passando pela sua janela, qualquer coisa...
Queria que sua vida fosse como os filmes de aventuras, aqueles que de uma hora para outra, acontecem mil e umas coisas... Mas a vida dele não era nenhum filme, era uma novela, pior, uma novela mexicana, cheia de enrolação e com um final previsível.
E o final dele, naquele domingo, seria esperar as horas passarem para depois ir deitar e levantar no dia seguinte para trabalhar. "Nada de novo no Mundo dos Mortos" pensou.
Era como ele se sentia, um morto-vivo, talvez ele tivesse morrido e não sabia, e vivia num inferno ou talvez num tipo de purgatório com seus dias sempre a repetirem...
Resolveu levanta-se da poltrona, foi até a janela da sala, lá fora estava quente, o ar parado e seco. A rua estava silenciosa, mais silenciosa do que o normal, nem os latidos dos cães ele podia ouvir mais. Resolveu sair, abriu a porta de casa, deu alguns passos, abriu o portão, com uma mão na cintura e a outra alisando o queixo, olhou para sua direita onde podia avistar o fim da rua que terminava numa curva também para direita. Estava deserta, nas casas vizinhas ele via as luzes acesas mas não ouvia barulho nenhum, nem de pessoas conversando, nem de crianças brincando ou bebês chorando, nenhum carro passando. Olhou para sua esquerda, onde ele podia ver uma avenida, que geralmente é movimentada (até mesmo para um dia de domingo) nenhum carro subia ou descia, não ouvia barulhos de ônibus, nada. Resolveu caminhar até a esquina na direção da avenida, uns duzentos metros adiante, enquanto caminhava sentia os pelos de sua nuca se arrepiarem e isso deu-lhe uma sensação desagradável.
Chegou na esquina e pode comprovar o que havia visto lá do portão de sua casa, a avenida estava deserta, nenhum carro, nenhuma pessoa e o mais estranho, o bar que fica do outro lado estava totalmente fechado. Ficou ali parado, aproximadamente uns 20 minutos. Nada. O deserto e o silêncio continuavam ali presentes. Olhava para as janelas dos prédios, as luzes estavam acesas, resolveu voltar, passou em frente a um edifício residencial na sua rua e não viu ninguém na portaria, continuou caminhando em direção a sua casa.
Entrou na sala e resolveu ligar a televisão, nada, a imagem estava fora do ar, deu um soco em cima do aparelho num misto de raiva e esperança para que aparecesse alguma imagem, mas nada, o chuvisco continuava ali, bilhões de pontos pretos e brancos brincavam insanamente na tela do aparelho. Foi para o quarto, ligou o seu computador, e tentou acesar a Web, uma mensagem de erro na conexão apareceu no monitor, tentou mais uma vez e outra e a mensagem teimava em aparecer no video. Num movimento quase de desespero pegou o telefone que ficava ao lado do computador, pôs o fone no ouvido. Nada. Nenhum sinal. Pegou seu celular, e um desenho de uma antena no visor, indicava que estava sem sina. E o mais estranho, que fez seu coração gelar, a hora no celular indicava 19:27h.
- Não pode ser! Falou em voz alta. Correu para cozinha e olhou para o relógio de parede que ficava em cima da pia, o ponteiro maior estava próximo ao número seis, e não chegava a ser 19:30h. O ponteiro dos segundos estava parado.
- O que está havendo? - voltou para a sala e num último ato, ligou o rádio, esperando ouvir a voz de alguém do outro lado, mas nada, apenas um chiado monótono saía das caixas de som, percorreu desesperadamente todas as estações mas o mesmo som persistia. Não sabia mais o que fazer, parou olhou para baixo, coçou a cabeça, tentando manter a calma.
Foi para a garagem, abriu o portão, entrou no carro e virou a chave da ingnição, mas o carro não pegou, tentou novamente, e nem sinal de vida, mais uma vez e nada.
- Puta que pariu! O que tá acontecendo? - Gritou numa forma de desabafo.
Saiu do carro e dirigiu-se para a casa da sua vizinha a direita, apertou a campainha, esperou alguns segundos não teve resposta, tocou uma segunda vez e apesar das luzes estarem acessas ninguém saiu para fora da casa. Atravessou a rua e foi na vizinha da frente, fez o mesmo tocou uma, duas, três vezes, ninguém atendeu. Nem o cachorro dela, que latia por qualquer barulhinho respondeu ao chamado da campainha.
Desesperado ele correu até o prédio onde ele havia a pouco tempo passado (o que estava sem o porteiro), apertou o interfone da portaria, nenhuma resposta, insanamente começou a apertar todos os botões dos apartamentos com a esperança de que pelo menos uma pessoa atendesse, mas nada aconteceu.
Lembrou-se de que na rua de baixo, havia uma igreja evangélica, e ele sabia também que ela abria aos domingos para os cultos, voltou para casa colocou um tênis e vestiu uma camisa melhor e correu até a rua de baixo. Quando dobrou a esquina pôde ver o templo com as luzes acesas e pôde perceber que a porta estava aberta. Correu mais rápido ainda, esboçando um leve sorriso no rosto. "Tem gente lá, eu sei que tem." - pensou.
Ao chegar em frente aos portões parou, deu uma ajeitada na roupa e no cabelo, não queria parecer um louco quando as pessoas lá dentro o vissem. Subiu as escadarias calmamente e quando entrou no templo evangélico, qual foi sua surpresa, não havia ninguém, ele boquiaberto e com os olhos paralisados de terror, começou a caminhar em direção ao altar a mão direita deslizava sobre os encostos dos bancos e quando ele chegou em frente ao altar, virou-se para os bancos vazios e não suportando mais, caiu de joelhos, olhou para cima e com os olhos marejados, gritou:
- O QUE ESTÁ ACONTECENDO MEU DEUS? O QUE ESTÁ ACONTECENDO? - gritou com toda sua força esperando que o próprio Deus respondesse, mas parecia que Ele como as demais pessoas também não estavam lá...
[Adilson Carlstrom Junior]
Se as dores fossem flores meu coração seria um jardim.

[Adilson Carlstrom Junior]

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Profecias de um Profeta sem Fé - A Visão

Às vezes ele grita, até a sua alma lhe rasgar por dentro e sair para fora como uma erupção vulcanica. Então ele viu...
"Ser humano, ser medíocre, até quando acreditas que és dominante sobre esta Terra coberta do sangue de seus irmãos? Acredita que sua pobre tecnologia, pode fazer-te eterno? Eterna serás sua hospedagem nas profundezas do Hades, na Terra dos Mortos.
Cobiçe, cobiçe cada vez mais, e pagarás o preço de tua ganância, seus filhos nascerão mortos.
A ira da tua Casa cairás sobre tua cabeça.
Correrás, correrás e não acharás lugar para esconder-te.
O teu endonismo despertarás o Caos, e os filhos de Eros serão castigados, tuas carnes serão cobertas de chagas e serás pior do que um maldito lazarento.
As tuas mulheres terão seus ventres ressecados.
Tereis riquezas, mas não não tereis comida, tereis ouro mas não tereis água, comerão os cadáveres de seus filhos e beberão sua própria urina.
As florestas queimarão, os mares secarão e suas luxuosas casas serão ruinas, covis de hienas e chacais. Os abutres pousarão na cabeceira do teu leito e os ratos comerão as pontas dos teus dedos apodrecidos de tanto contar teu dinheiro sujo.
Eis que a Ira se aproxima, cedo vem, e não tardará..."
[Adilson Carlstrom Junior]

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

O Planetinha

Perdido no meio do nada, havia um simpático planeta azul. Esse planeta vivia em paz e harmonia. Nele existia muito animais de várias espécies, inúmeras aves coloridas, milhares de cardumes, também havia lindas florestas, campos cobertos de coloridas flores, montanhas gigantescas, rios de águas frescas e cristalinas, tudo era quase perfeito.
"Quase" porque nesse planeta paradisíaco também vivia um animal, um animal diferente dos demais, um animal que não possuia presas, possuia dentes, não possuia garras, tinha mãos, não tinha patas, tinha pés. Esse animal não andava de quatro como a maioria dos mamíferos, ele andava em pé, e o pior de tudo, ele pensava e por pensar se achava inteligente.
Na verdade o que esse planetinha não sabia é que esse ser que nele habitava, era na verdade uma "célula cancerígena", e o tempo foi passando e essa célula foi-se multiplicando e crescendo, se organizando em sistemas mais complexos.
Então o planetinha começou a ficar doente e de azul celeste passou para um azul acinzentado, seus animais começaram a morrer caçados (quer dizer, assassinados), suas matas foram reduzidas a cinzas por causa dos incêndios, seus vales antes coberto de flores, agora eram cobertos de sangue por causa das guerras que o tal animal criava entre eles, as florestas de madeira foram substituidas por florestas de concreto, seus rios secaram ou viraram esgostos abertos.
Milhões de anos depois, esse câncer tomou conta de todo planetinha, e hoje ele se encontra em estado terminal, o planetinha sofre de terríveis febres, tremores, seu corpo está todo marcado com feridas purulentas. E ele sabe que logo, tudo estará terminado, então calmamente, deitado em um leito ele espera por duas coisas: Um milagre ou o fim.
[Adilson Carlstrom Junior]

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Profecias de um Profeta sem Fé - O Portal -

Quando uma porta, não é uma porta? Quando ela é um Portal.
Ele sabe que Ele existe, sabe que está próximo, pode senti-Lo, pode quase ouvi-Lo a lhe chamar.
Mas não consegue vê-Lo. Ainda não.
Talvez o Portal esteja em um terreno baldio, atrás de um caco de vidro coberto de tétano. Dentro da casca de um caramujo. No olhar de uma criança cega. Na lágrima ácida de um amor perdido. Talvez esteja longe, na última estrela de um universo paralelo. No porão da casa de Deus, dentro de um baú coberto de pó e esquecimento.
Mas um dia ele O verá, e atravessará e finalmente chegará em casa, na sua verdadeira casa.
Então a Paz encherá o seu coração, e ele verá o rosto de seu Pai, e beijará a face de sua Mãe, e comerá com seus irmãos, e receberá um novo nome, e seu nome será eterno.
[Adilson Carlstrom Junior]

Díario de um solitário - Parte 1

Em seu solitário quarto, ele ouvia uma música tocar num volume que parecia que a melodia vinha do outro lado do planeta. Mas isso não importava, a música era sua companheira, servia de fundo musical para seus pensamentos naquele momento. Ao seu lado a boa e velha vodka estava lá. Amiga fiel dos seus momentos de fuga, de reflexão, de dor, de alegria; mas hoje ela estava ali por um motivo diferente, por paixão.
Ele estava ali. Sentado à beira da sua cama. Olhava para o vazio, tentava entender o que havia acontecido naquele dia, tentava "rebobinar" suas memórias como uma velha fita de video cassete, queria descobrir em que momento, em que minuto e segundo ela havia entrado em sua vida.
Teria sido pela manhã, quando ela, sem expressar timidez nenhuma, sentou-se à sua mesa e com um olhar indiferente o cumprimentou? Ou teria sido mais a tarde, quando ele lhe fez um favor no trabalho e ela lhe agradeceu com um doce sorriso ( apesar que foi o mais lindo sorriso que ele havia visto pelo menos nos útimos dez anos) ? Talvez tenha sido no mometo em que ela lhe tocou no braço e então ele pode sentir o toque suave e quente das pontas do seus dedos jovens, a eternizar aquele momento, algo quase mágico...
Isso não importava mais, já estava consumado, ela simplesmente havia abalado suas estruturas, e agora, naquele quarto, com uma música de fundo, sua vodka ao lado, ele pensava nela, somente nela. Aquela noite seria longa.
[Adilson Carlstrom Junior]