quarta-feira, 16 de abril de 2008

Para você


Teu Riso


Tira-me o pão, se quiseres, tira-me o ar, mas não me tires o teu riso.

Não me tires a rosa, a lança que desfolhas,

a água que de súbito brota da tua alegria,

a repentina onda de prata que em ti nasce.


A minha luta é dura e regresso com os olhos cansados

às vezes por ver que a terra não muda,

mas ao entrar teu riso sobe ao céu a procurar-me

e abre-me todas as portas da vida.


Meu amor, nos momentos mais escuros solta o teu riso

e se de súbito vires que o meu sangue mancha as pedras da rua,

ri, porque o teu riso será para as minhas mãos como uma espada fresca.


À beira do mar, no outono, teu riso deve erguer sua cascata de espuma,

e na primavera, amor, quero teu riso como a flor que esperava,

a flor azul, a rosa da minha pátria sonora.


Ri-te da noite, do dia, da lua, ri-te das ruas tortas da ilha,

ri-te deste grosseiro rapaz que te ama,

mas quando abro os olhos e os fecho,

quando meus passos vão, quando voltam meus passos,

nega-me o pão, o ar, a luz, a primavera, mas nunca o teu riso,

porque então morreria.


[Pablo Neruda]

Nenhum comentário:

Postar um comentário